artigos |Postado em 24-11-2021

TENDÊNCIA CRUELTY-FREE: O APOIO DOS CONSUMIDORES À PROTEÇÃO ANIMAL

Relatório da Market Research Future divulgou expectativa de crescimento de 6% do mercado cruelty-free e o alcance da marca de 10 bilhões de dólares até 2024. Esses números refletem a influência da certificação na busca por um padrão de consumo mais respeitoso com os animais.

Na década passada, os consumidores brasileiros que buscavam aderir ao movimento de banimento de testes cosméticos em animais passavam por dificuldades para encontrarem não só esses produtos, como informações confiáveis sobre eles.

A melhor forma de resolver essa questão é, sem dúvidas, a partir da certificação por selos oficiais. Quando uma instituição identifica seu produto utilizando um selo cruelty-free oficial, como o Leaping Bunny, está garantindo ao consumidor que não realiza testes e não utiliza matérias primas testadas em animais, mesmo que por outras marcas. Considerando que o processo de certificação envolve várias etapas, como auditoria, revisão, monitoramento e renovação, além de ser fortemente verificado e realizado por organizações sólidas e responsáveis, a empresa que possui um selo oficial reafirma junto ao consumidor o compromisso com a causa animal.

A ONG Te Protejo iniciou o trabalho de certificação de cosméticos no Brasil no ano de 2018 e, no início de 2021, passou a emitir a licença Leaping Bunny em toda a América Latina [1]. Essa licença representa o padrão ouro de certificação de cosméticos cruelty-free e faz parte do programa internacional da Cruelty Free International, organização que lidera a campanha mundial contra testes cosméticos em animais.

O selo Leaping Bunny é mundialmente reconhecido e, atualmente, está vinculado a mais de mil empresas de cosméticos, cuidado pessoal e limpeza cruelty-free. O comportamento do consumidor, que vem mudando no sentido da busca por produtos livres de crueldade, incentiva as instituições a adotarem algum selo oficial. Segundo a Forbes (2021) [2], uma pesquisa realizada em 2018 pelo Ibope (Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística) já demonstrava a preferência de 55% dos brasileiros por algum produto vegano, desde que devidamente identificado. Já em 2021, a Market Research Future divulgou um estudo [3] segundo o qual o mercado de cosméticos cruelty-free deve contar com alta de 6% de 2019 até 2024 e estima-se que alcançará a marca de dez bilhões de dólares até lá.

O perfil dos consumidores se reflete na sociedade mais jovem, especialmente a Geração Z. Para aqueles que já buscam produtos cruelty-free, a certificação facilita a procura e pode gerar uma simpatia por uma marca até então desconhecida, movida pelo sentimento de identificação. Em relação aos demais, a existência de um selo oficial pode causar curiosidade e interesse, e, desse modo, o produto pode captar novos consumidores e levar cada vez mais à expansão desse nicho. A importância da certificação oficial é, justamente, fazer com que o consumidor reconheça determinado selo, evitando confusões com outros, e se identifique com o produto a ponto de priorizá-lo.

É o que vem acontecendo. Impulsionados por campanhas de ativistas e organizações, os produtos livres de crueldade têm ganhado cada vez mais espaço. Além disso, a pandemia do Covid-19 foi determinante para que muitas pessoas repensassem seus hábitos e a forma como o ser humano está ocupando o planeta, uma vez que a destruição dos biomas e das espécies vem ocasionando desastres ambientais com graves consequências para todos os habitantes. Entretanto, apesar de muitos consumidores de itens cruelty-free demonstrarem preocupação ambiental, o processo decisório de aquisição de um produto livre de crueldade está relacionado aos seus valores éticos, especialmente no que diz respeito ao uso de animais em testes [4]. De toda forma, a busca por esses produtos se configura como uma grande tendência do mercado.

A ação #SalveORalph, lançada em abril de 2021 no Brasil pela Humane Society International e a ONG Te Protejo como parte da campanha #LiberteSeDaCrueldade, foi um divisor de águas na vida de muitas pessoas que, assim como eu, não tinham despertado até então para a crueldade que fomenta os testes em animais. Essa ação, que conta com um abaixo-assinado no Change.org para proibir os testes cosméticos em animais, incentivou muitos consumidores a buscarem produtos cruelty-free por não compactuarem com esse sofrimento. Até o momento, a petição conta com mais de 1 milhão e 600 mil assinaturas.

Essa adesão do consumidor à pauta cruelty-free demonstra uma forte tendência de conscientização das pessoas em relação ao fim dos testes cosméticos em animais. E é por isso que acredito que a disseminação de informações claras aos consumidores, principalmente através da certificação oficial e da promoção de campanhas educativas, constitui o melhor caminho para abolir a crueldade animal da indústria de cosméticos, cuidado pessoal e limpeza de ambientes, no Brasil e na América Latina.

 

[1] Certificação com o programa Leaping Bunny na América Latina. ONG Te Protejo Brasil, julho de 2021. https://ongteprotejo.org/br/noticias/certificacao-com-o-programa-leaping-bunny-na-america-latina/

[2] Letícia Nanci: o olhar da dermatologia para os cosméticos veganos. Forbes, julho de 2021. https://forbes.com.br/coluna/2021/07/leticia-nanci-o-olhar-da-dermatologia-para-os-cosmeticos-veganos/

[3] Cruelty-Free Cosmetics Market Scenario. Market Research Future, fevereiro de 2021. https://www.marketresearchfuture.com/reports/cruelty-free-cosmetics-market-3825

[4] Parem os testes! Percepções sobre o comportamento e motivação de consumo de consumidores de produtos cruelty free. Inovarse (Congresso), agosto de 2015. https://www.inovarse.org/sites/default/files/T_15_364_0.pdf