Alternativas para testes de irritação e corrosão da pele e dos olhos
Conheça algumas das alternativas livres de crueldade para os testes que avaliam o potencial de irritação/corrosão das substâncias para pele e olhos.
Em 2017, mais de 10 milhões de experimentos foram conduzidos com animais na União Europeia. De acordo com Vinardelli e Mitjans, os relatos do Comitê Científico da Segurança dos Consumidores (SCCS) também de 2017 revelavam que, na Europa, somente os testes de Absorção Dérmica e Genotoxicidade de cosméticos estavam sendo desenvolvidos, em sua maioria, com métodos que substituíam animais vivos.
Na região da Grã-Bretanha, dados deste mesmo período mostraram uma redução sutil no número procedimentos experimentais com animais mas, ao mesmo tempo, uma elevação de 4% do total de procedimentos que usam animais vivos em suas etapas. Isso se deve ao fato de que diversos laboratórios os procriam e geram animais geneticamente modificados, que são confinados em biotérios, até que sejam usados nos experimentos.
Procedimentos científicos em animais vivos na Grã Bretanha, 2008-2017. Hoje contabiliza-se mais 3,8 milhões de procedimentos com animais, representando 4% menos que em 2016, sendo que 1,89 milhão utilizou animais vivos. Observa-se uma redução de 17% no número de animais envolvidos em testes quando comparado há 2008. Fonte: Adaptado de GREAT BRITAIN, 2017; REVISTA GALILEU, 2018.
Contudo, já existem diversos métodos de teste afinados com os princípios de 3Rs (substituição, refinamento ou redução de animais envolvidos) para Avaliação de Segurança Toxicológica de produtos, incluindo testes de corrosão / irritação de pele e olhos, sensibilização e absorção dérmica, genotoxicidade, mutagenicidade e fototoxicidade[1].
Para que os produtos que terão contato com pele, olhos, mucosas, trato respiratório etc. sejam aprovados para comercialização, é obrigatório que as substâncias presentes neles sejam testadas, avaliando o potencial de causarem alterações adversas locais ou sistêmicas.
Esses testes toxicológicos garantem a segurança dos produtos que usamos e visam proteger nossa saúde. Se alguma substância causar alteração local, após uma única exposição, pode ser classificada como irritante ou corrosiva, dependendo da reversibilidade dos efeitos observados.
Por definição, a irritação é um dano de curto-prazo e reversível após contato com uma substância por algumas horas. A corrosão é definida como a produção de dano irreversível ou deterioração física grave, manifestada como necrose visível (forma de lesão celular que resulta na morte prematura de células) após contato com uma substância.
Para avaliar tais desfechos, o teste de Irritação/Corrosão Cutânea e Ocular em coelhos, ou teste de Draize[2], desenvolvido em 1944, vinha sendo um teste padrão-ouro até 2009. A substância química era aplicada nos olhos ou pele de coelhos albinos, que eram avaliados após 4, 24, 48 e 72 horas, e acompanhados por 14 a 21 dias para verificar a reversibilidade da lesão.
Porém, alguns pesquisadores insatisfeitos com as limitações técnicas e éticas do método - infringindo dor e sofrimento aos animais em procedimentos de longa duração e alto custo - desenvolveram alternativas para substituí-las:
Para substituir o teste de irritação ou corrosão ocular de Draize:
- Testes in chemico (Teste de desnaturação de hemoglobina (HD); Ocular Irritection® test)
- Modelo de predição in silico;
- Ensaios organotípicos (ex vivo - BCOP, ICE, HET-CAM);
- Método baseado em citotoxicidade in vitro;
- Teste com epitélio semelhante à córnea humana reconstruído em 3D (RhCE).
Para substituir o teste de irritação ou corrosão cutânea de Draize:
- Método baseado em citotoxicidade in vitro;
- Teste de Resistência Elétrica Transcutânea in vitro;
- Teste de Barreira de Membrana in vitro;
- Teste com epiderme humana reconstruída em 3D (RhE).
Destes, os modelos RhCE e RhE estão recebendo destaque como uma alternativa promissora com um amplo domínio de aplicabilidade, que abrange cosméticos e produtos de higiene pessoal[3]. Os modelos in vitro de avaliação baseiam-se na exposição direta das células ao produto químico em estudo. Desde 2010, esses testes são aprovados e amplamente difundidos em todo o mundo.
A substituição dos ensaios em coelhos por testes em pele e córnea humana reconstruídas a partir de células de doadores mostra-se um caminho não apenas mais ético, mas com resultados mais relevantes para os humanos, pois existem diferenças metabólicas e de resposta tecidual entre animais humanos e não-humanos.
Esses e outros métodos alternativos são aprovados por centros de validação regulatória e por estudos colaborativos internacionais reconhecidos. No Brasil, eles são aceitos e recomendados aos laboratórios de testes e pesquisas desde 24 de setembro de 2014, a partir da publicação da Resolução Normativa nº 18 do Conselho Nacional de Controle a Experimentação Animal (CONCEA)[1]. Os laboratórios que não utilizarem as alternativas, substituindo o uso de coelhos para avaliar irritação/corrosão de olhos e pele, estão sujeitos à multa e até perda da licença para funcionar.
Pelo menos para avaliação de produtos cosméticos, perfumaria e de higiene, essas alternativas são amostras do quanto o cenário tem mudado para melhor. Além de serem tecnologias benéficas para a saúde e bem-estar humano, não envolvem sofrimento animal.
O caminho é árduo, mas tem muita gente trabalhando por ainda mais avanços nesse sentido. Inclusive, em prol de metodologias de teste que não incluam nem órgãos ou fluidos de origem animal.
Gostou de saber? Mantenha-se conectado com a Te Protejo e conheça ainda mais possibilidades para uma vida livre de crueldade!
Muito obrigada!
Lorena Neves
Referências:
[1] Lorena Neves. O futuro dos testes toxicológicos é livre de crueldade (2020) https://ongteprotejo.org/br/articulos/o-futuro-dos-testes-toxicologicos-e-livre-de-crueldade/
[2] Lorena Neves. Testes em animais e o que eles sentem (2020) https://ongteprotejo.org/br/articulos/testes-em-animais/
[3] Miri Lee, Jee-Hyun Hwang, and Kyung-Min Lim. Alternatives to In Vivo Draize Rabbit Eye and Skin Irritation Tests with a Focus on 3D Reconstructed Human Cornea-Like Epithelium and Epidermis Models. Toxicol. Res. Vol. 33, No. 3, pp. 191-203 (2017) https://doi.org/10.5487/TR.2017.33.3.191
Ilustrações: freepik.com
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