Veganismo e Medicina Veterinária: dá para conciliar?
Resolvi comentar sobre um assunto bem específico, porém com muitas dúvidas e poucas respostas, como o veganismo e a medicina veterinária se relacionam e como fazer para conciliá-los.
Olá, pessoal!!
Estou muito animada em trazer esse assunto aqui para o blog, pois já fui questionada diversas vezes, com perguntas variadas, e percebi que não se fala muito sobre isso, mesmo que as turmas mais atuais da veterinária possuam vários estudantes vegetarianos e veganos. ♥
E de onde eu tirei esse assunto? Bom, para quem não viu meu post de apresentação, sou médica veterinária, trabalho com doenças infecciosas e parasitárias e atualmente vegana, e essas são minhas duas paixões.
A primeira coisa, que já ouvi muito e me solidarizo porque eu também já pensei isso, é que eu não poderia ser veterinária por ser "sensível demais", "não ter estômago", ser "delicada demais". Já começo dizendo que isso não é verdade, pois um bom profissional deve sim se importar com o que acontece ao seu redor e ter empatia pelos animais. Não é fácil vivenciar situações horríveis que muitas vezes estão fora do nosso alcance, mas iremos vê-las independente de trabalhar com isso ou não, e eu penso que estamos lá para ajudar, isso dá forças para seguir em frente.
A segunda é: mas COMO os estudantes e profissionais não são todos vegetarianos/veganos? Então, pessoal, eu sei que é chocante, mas INFELIZMENTE a maioria não é, e isso acontece também porque inicialmente o curso foi criado para cuidar da saúde dos animais "de fazenda" para que eles não transmitissem doenças aos humanos que consumissem seus produtos, e que assim as pessoas tivessem sua demanda por produtos de origem animal atendida. Eu sei que isso não é o que queremos ouvir/ler, mas isso justifica o porque a área de "produção animal" dentro da medicina veterinária é tão forte. Porém, isso vem mudando ao longo do tempo.
Sobre as matérias que envolvem produção/reprodução/tecnologia e inspeção de produtos de origem animal, no geral são difíceis para nós. EU optei por assistir todas as aulas dessas matérias (apesar de não ter visitado frigorífico) porque na época eu ainda estava cogitando me tornar vegetariana e achava que precisava de um choque de realidade para me tornar de vez, e foi exatamente isso que aconteceu, mas não recomendo que façam a mesma escolha. Já temos o direito de nos recusarmos a participar de aulas envolvendo animais, basta pesquisar sobre escusa/objeção de consciência, e trazer o debate para a sala de aula. Com relação a isso, nunca tive problemas.
Sobre as áreas de atuação, se ser médico (a) veterinário (a) é o que você quer, lembre-se que você não precisa atuar em áreas que não gosta/concorda após a graduação, assim como em todas as áreas. Hoje já existe a área de Medicina de Desastres, Medicina Veterinária do Coletivo/de Abrigos, Clínica e Cirurgia, Saúde Única, Anestesiologia, Emergência, Diagnóstico (laboratorial e por imagem), apenas para citar algumas. ♥
Finalmente, um tópico de observações. Veganos não são todos iguais, não concordamos nem discordamos das mesmas coisas, isso vale para o meio da veterinária e fora dela. Você também pode ser questionado pelo movimento ao realizar sua atividade profissional, independente da área. Somos julgados dentro da profissão e dentro do veganismo, isso também é um fato, infelizmente. Porém eu acredito que essa combinação é perfeita, pois une o saber técnico científico e a empatia e consideração pelas pessoas e pelos animais, então os dois lados têm a ganhar com médicos veterinários vegetarianos/veganos. ♥
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