Moda Inclusiva: liberdade e expressão
Conheça neste artigo o que é e quais marcas nacionais são especializadas na moda inclusiva.
Até meados do século XV as pessoas se vestiam de modo muito semelhante. Usava-se a mesma vestimenta por toda a vida. O conceito de moda surgiu no final da Idade Média na corte da Borgonha, com o desenvolvimento das cidades. Nesta época, as roupas seguiam um padrão que variavam de acordo com a classe social. Havia, inclusive, leis que limitavam alguns tecidos e cores somente aos nobres.
A burguesia tentava imitar os trajes dos nobres. Deste modo, o trabalhou dos costureiros tornou-se mais árduo, pois além de fazer as peças, eram obrigados a criar vestimentas que diferenciassem a nobreza da burguesia.
Assim, a origem da palavra “moda” faz todo o sentido. Ela deriva do latim modus, que significa modo ou maneira. A palavra em inglês é “fashion”, originada do francês façon, cujo significado é o mesmo de modus.
Com a Revolução Industrial e a invenção das máquinas de máquinas de costura, os custos dos tecidos e da produção diminuiu. A partir de então, as classes mais humildes tiveram acesso a roupas de melhor qualidade.
No século XIX iniciou-se necessidades individuais de moda, não mais ligadas a classes sociais. A moda passou a compreender as afirmações pessoais e a expressar ideias e sentimentos.
Segundo o francês Gilles Lipovetsky, estudioso do assunto, a moda foi essencial por séculos como instrumento de divisão social. Porém, atualmente, ela deve ser essencialmente prática. Seguindo a tese de Lipovetsky, pode-se adicionar ainda que a moda está ligada a comportamento. É mais uma forma de dizer quem somos, o que pensamos e como desejamos nos apresentar ao mundo.
MODA INCLUSIVA
Esta necessidade de expressão é inerente a todos. Faz parte do sentimento de pertencimento e identificação. Entretanto, muitas vezes a moda não é feita para todas as pessoas. A moda inclusiva surge para sanar uma demanda importante: trazer autonomia, demonstração de identidade e autoestima para PcDs (pessoas com deficiência). Segundo o último IBGE (2010), há no Brasil cerca de 45 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência, seja ela visual, física – motora ou mental.
Uma pessoa com deficiência pode demorar, em média, até 2 horas e meia para se vestir sozinha. Esta adversidade faz com que muitas pessoas deixem de sair, acarretando isolamento e impactos na vida social e saúde psicológica.
Em 2014, a psicóloga Danielle Sheypuk foi a primeira modelo cadeirante a desfilar na Semana de Moda de Nova York, com a assinatura da estilista Carrie Hammer. Desde então, muita coisa mudou.
A moda inclusiva passou a ser pensada não apenas para se adaptar aos diferentes tipos de corpos e restrições, mas também para ser usada por quem não possui nenhum grau de deficiência. Adaptações e áudio descrições garantem que a peça possa chegar a todos e que exista, principalmente, o poder da escolha.
Simples adequações incluem:
• Camisas sociais com fechamento em velcro. Os botões são mantidos, mas apenas com fins estéticos
• Etiquetas em braile
• Bolsos para cadeirantes. Isto é, colocados em locais que sejam acessíveis, como a parte frontal da calça
• Calças jeans com elástico
• Barra da calça com maior elasticidade
• Cós alto
• Tamanho correto de peças para quem tem membros amputados
• Tecidos respiráveis para evitar escaras
Confira marcas nacionais que investem na moda inclusiva:
Adapt&
A Adapt& é a linha da marca Reserva adaptada para PcDs. A linha é feita com colaboração da marca Equal, especializada em moda inclusiva. As peças possuem o mesmo visual das tradicionais da marca, porém com adaptações para que possam ser usadas por diferentes tipos de corpos.
Equal
Criada pela estilista Silvana Louro. As peças são feitas nas versões convencionais e adaptadas. Os produtos são desenvolvidos visando conforto, funcionalidade, autonomia e beleza.
Adaptwear
Fundada por Marco Chagas e Ana Cyra Palmerston. Preocupados com a falta de opções de peças práticas e bonitas para PcDs, o casal decidiu otimizar a vida dos clientes sem jamais perder a função estética e expressiva das roupas.
Aria
Criada em 2017 pela estilista Drika Valério, a marca tem como principal objetivo melhorar a experiência das pessoas com deficiência com relação a moda. Ela entende não apenas a importância da autonomia, mas também o desejo de estar inserido na moda. A marca acredita que este é um mercado necessário e que precisa crescer.
Lado B
Fundada em 2013, a Lado B foi uma das primeiras marcas voltadas para o consumidor PcD que trazia beleza e funcionalidade. A marca defende a total inclusão das pessoas com deficiência no universo da moda. Além das peças de vestuário, a Lado B possui acessórios como etiquetas em braile e tênis adaptados, visando atender as necessidades dos usuários.
Pantys
Criada em 2017 por Emily Ewell e Duda Camargo, a Pantys foi a primeira marca de calcinhas absorventes da América Latina. Em 10 de agosto de 2022 a marca lançou a calcinha Easy. Elaborada para as consumidoras PcDs, a calcinha possui aberturas laterais e colchetes. Disponível apenas para fluxo moderado e na cor preta, a peça permite a rápida e prática troca durante o período menstrual.
Costuras do Imaginário
Criada em 2016 por Cíntia Caroline. A marca surgiu após Cíntia aprender braile e perceber a importância e ao mesmo tempo ausência desses sinais nos produtos. Após longo período de estudo de como realizar a aplicação do braile em tecidos, Cíntia finalmente lançou a Costuras do Imaginário. Além das estampas em braile, os produtos também possuem QR code, garantindo assim total autonomia do deficiente visual.
Em adição as camisetas e croppeds femininos, ela também comercializa camisetas infantis, almofadas, bags, pôsters etc. A marca também preza pela sustentabilidade e dispensa o uso de plástico nas embalagens.
Via Voice for Fashion
Após anos de dificuldade para encontrar roupas que coubessem em seu corpo de 1,48m, Josi Zurdo criou a marca especializada em pessoas com nanismo. Em parceria com o Movimento Nanismo Brasil, elaborou uma tabela de medidas para a população com nanismo, em especial os portadores de acondroplasia (principal causa de nanismo).
A Via Voice for Fashion abrange o público feminino e masculino com roupas adultas e do tamanho correto.
Preguistê
Criada na pandemia, a marca é especializada em pijamas para serem usados em casa ou na rua. A Preguistê entende a importância da diversidade de corpos, confeccionando peças para o público gordo e portadores de deficiência (linha Preguitêsivo), homens, mulheres e lactantes (linha Preguisamamentê).
A marca foca no atendimento exclusivo e nos ajustes específicos. Todos os modelos podem ser adaptados, basta o cliente comunicar a necessidade antes da compra.
Felizmente pode-se encontrar marcas nacionais que desenvolvem peças para a população PcD. As citadas acima são apenas algumas. O importante aqui é colocar em evidência a moda inclusiva, tão necessária, mas ainda tão invisível.
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