Conheça o impacto do nosso consumo e geração de resíduos
Normalmente tendemos a dispor nosso "lixo" para a coleta e não pensamos no caminho que ele percorre, e muito menos para onde ele vai. Hoje eu quero te mostrar que não existe "fora" e que mesmo que os resíduos não estejam mais no nosso campo de visão, não podemos fechar os olhos pois sempre seremos responsáveis por eles!
Você provavelmente já escutou a famosa frase do químico Lavoisier: “Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”. Acredito que essa frase deveria estar presente na rotina da sociedade moderna como forma de reflexão, de pensar antes de agir. Se na natureza nada se cria, precisamos de uma matéria prima (recurso natural); se na natureza nada se perde, precisamos de espaço para disposição final de tudo que fabricamos; e se na natureza tudo se transforma, é possível reciclar.
Na sociedade consumista e imediatista da qual somos parte, a ilusória “falta de tempo” nos coloca no piloto automático, vivemos de uma forma sistemática, gerando um abismo entre refletir e agir. É comum “não termos tempo” para pensar nos impactos de algo tão rotineiro e habitual como descartar uma casca de banana no mesmo recipiente do saco plástico no qual ela foi embalada. A geração de resíduos sólidos (RES) se expande como consequência do modelo de desenvolvimento baseado no consumo excessivo que se ramifica na obsolescência perceptiva e na obsolescência programada.
A responsabilidade pela gestão dos resíduos sólidos é dever de todos que participam do ciclo de vida do produto. A destinação final ambientalmente adequada dos RES compreende a reutilização, a reciclagem, a compostagem, a recuperação e o aproveitamento energético ou outras destinações admitidas pelos órgãos competentes, como a disposição final, de modo a evitar danos ou riscos à saúde pública e a segurança, e também, minimizar os impactos ambientais adversos (BRASIL, 2010).
Quando os RES não são separados de forma adequada suas consequências se materializam em diversos impactos socioambientais negativos, como emissão de gases de efeito estufa; degradação e contaminação do solo; poluição da água e do ar; proliferação de vetores, como é o caso do Aedes aegypti (vetor da dengue); potencialização dos efeitos de enchentes nos centros urbanos; entre outros (ECO PANPLAS, 2016).
Mas para que a separação dos RES seja exercida de uma maneira eficiente, visando a sustentabilidade, é necessário que os municípios ofereçam mais do que os serviços convencionais de coleta, é necessário a universalização da coleta seletiva dos recicláveis e a coleta dos orgânicos para compostagem. Entretanto a realidade no Brasil se encontra distante do cenário ideal, entre 2003 e 2014 a geração de RES aumentou 29% e foi cinco vezes maior que a taxa de crescimento populacional no mesmo período, contudo a capacidade de tratamento adequado destes não acompanhou a sua geração (DA SILVA et al., 2018). Cada cidadão brasileiro gera aproximadamente 1kg de resíduos por dia, ainda assim, mais de 38,5% da população brasileira não tem acesso a serviços adequados à sua disposição. Mais 78,6 milhões de toneladas de RES produzidos no país em 2014 foram descartados em locais inadequados como lixões e aterros controlados (ABRELPE, 2015 apud DA SILVA et al., 2018).
De acordo com dados do Observatório dos Lixões, dos 5.570 municípios brasileiros, apenas 2.257 realizam a disposição final ambientalmente adequada dos RES, ou seja, mais da metade dos municípios ainda depositam seus RES de maneira irregular, nos aterros controlados e nos lixões, ambos não apresentam nenhum critério de engenharia ou controle ambiental, além disso são altamente poluentes por não possuírem impermeabilização do solo e tratamento do chorume (líquido proveniente da decomposição da matéria orgânica). Dentre os principais resíduos gerados no Brasil, o principal são os orgânicos que correspondem a 45% de tudo que é gerado no país, e quando não os separamos dos rejeitos (resíduo sólido que não apresenta outra possibilidade que não a disposição final ambientalmente adequada) contribuímos para problemática dos aterros controlados e dos lixões (ABRELPE, 2021 apud PUENTE, 2022).
O entendimento acerca dos impactos ambientais causados pelo gerenciamento inadequado dos RES é de extrema importância para estimular a busca por soluções. É necessário um grande investimento e uma parceria do setor público e privado para que seja possível a universalização da coleta seletiva dos recicláveis; dos resíduos orgânicos e da disposição adequada dos RES. Porém, não basta pôr um fim nos lixões e nos aterros controlados, é necessário que a mudança também ocorra em nós; no nosso pensamento e nas nossas atitudes, para que assim possamos mudar o mundo e reduzir os impactos negativos das nossas ações.
Se você chegou até aqui, gostaria de te fazer um convite. No próximo post vou dar segmento na problemática dos resíduos sólidos, porém o assunto será direcionado a uma solução, como podemos fazer a diferença sem sair de casa!
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