artigos |Postado em 16-10-2020

Dermocosméticos veganos

Você não precisa ser vegana ou vegano para optar por produtos sem derivados de origem animal e livres de crueldade. Lembre-se: Você pode escolher, os outros animais não.

O posicionamento vegano é orientado por diversas razões, mas a principal delas é o critério ético de se abster de atitudes que vão envolver a exploração de animais (humanos e não-humanos) e do meio ambiente, na medida do possível e praticável. Trata-se de um estilo de vida, que engloba hábitos alimentares, vestuário e consumo em geral.

Por muito tempo, os produtos sem ingredientes de origem animal/não testados em animais eram difíceis de ser encontrados e, além disso, muitas pessoas acreditavam que o estilo de vida vegano era limitado à alimentação vegetariana estrita. A reivindicação por produtos veganos fazia pouco barulho há alguns anos. No entanto, em 2019, a revista The Economist, relatou que ¼ da geração Millennials (que nasceu após os anos 80) se declarava vegetariana ou vegana[1]. E as gerações seguintes já estão sendo impactadas.

Como era de se esperar, o consumidor vegano foi notado pelas indústrias e este nicho de mercado tem crescido exponencialmente. A indústria alimentícia e da beleza foram as que mais sofreram impacto, pois também são as que mais massacram animais todos os anos. Um relatório realizado nos Estados Unidos em 2018 descreveu que “a indústria de comida vegana registrou um crescimento de 20% em relação ao ano anterior, com vendas chegando a US$ 3,3 bilhões”, segundo Andrea Cheng, do The New York Times.

Tal impacto foi positivo para os animais, para consumidores, para o meio ambiente, para as indústrias e para a economia. O consumo sustentável e ético tem se mostrado uma busca crescente.

Empresas e marcas REALMENTE veganas tomam o cuidado de entregar alta qualidade, relações trabalhistas justas e transparência nos processos. Nem sempre um produto não testado em animais é vegano, mas, a priori, uma marca vegana assume a responsabilidade de não testar ingredientes ou seu produto final em animais. Aqui você pode entender melhor o que são esses Testes em animais e o que eles sentem.

A sociedade vegana mais antiga do mundo, a Vegan Society, registrou que já existem mais de mil marcas veganas e não testadas e/ou sem ingredientes testados em animais só na Grã-Bretanha[1]. No Brasil, uma certificação para produtos veganos pode ser fornecida pela Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB).

Já temos um post aqui no blog onde deixamos clara a Nova posição sobre Certificações Veganas na Te Protejo, e certificações internacionais também são citadas.

Ingredientes de origem animal em cosméticos

Produtos que não possuem ingredientes de origem animal em suas composições respondem por cerca de 7% dos novos lançamentos mundiais de produtos de higiene pessoal e beleza.[2] Entre julho de 2017 e junho de 2018, os produtos para a pele correspondiam a um terço dos lançamentos de beleza e cuidados pessoais veganos, segundo o Banco de Dados Global de Novos Produtos (GNPD) da Mintel.

Em produtos de higiene, saúde e beleza para a pele, conhecidos como dermocosméticos, as seguintes substâncias de origem animal podem ser encontradas:

  • Mel (vômito das abelhas) - Ação hidratante, antioxidante e esfoliante;
  • Cera de abelha (produto das glândulas cerígenas das abelhas) - Ajuda a selar a umidade na pele;
  • Ácido hialurônico (crista do galo) - Sustentação, preenchimento e hidratação;
  • Ácido Esteárico (gordura abdominal do porco) - Estabilidade das emulsões e ajuda a manter a hidratação;
  • Almíscar (órgãos genitais de lontra, castor, veados e outros animais) - Fixação do perfume na pele;
  • Lanolina (gordura da pele de carneiro) - Capaz de manter a hidratação;
  • Esqualeno (óleo de fígado de tubarão) - Mantém hidratação, fixando-se nas camadas mais profundas da pele;
  • Carmim / Ácido Carmínico (cochonilha macerada) - Corante vermelho;
  • Colágeno e elastina (ossos, tendões ou ligamentos de bovinos ou suínos) - Reestruturação e reorganização do tecido conjuntivo da pele;
  • Ureia e Alantoína (produto da urina bovina) - Agente de condicionamento da pele;
  • Vitamina A ou Retinol - Queratinização;
  • Vitaminas do Complexo B - Proteção contra agressores externos;
  • Vitamina D - Reduzir rugas, manchas, flacidez, irritação e desidratação;
  • Biotina / Vitamina H / Vitamina B7 (produzida no intestino) - Ativa o metabolismo de gorduras, carboidratos e proteínas nas células da pele;
  • Âmbar cinza (vômito de baleia cachalote)* - Fixador de perfumes;
  • Placenta (de caprinos ou bovinos)* - A presença de hormônios nesse tecido evita a perda de líquido, desinflama e ajuda na cicatrização.

*Âmbar cinza e Placenta estão em desuso.

É evidente, mas preciso salientar que a obtenção desses derivados gera uma vida de exploração e dor para milhões de animais, culminando na morte da maioria.

Se não for um produto com certificação, ou declaradamente vegano, provavelmente, os “ingredientes” citados acima estão na composição de hidratantes, máscaras faciais, perfumes ou  shampoo que você compra. Na maior parte das vezes, a presença deles é ocultada por siglas e números padronizados pela indústria química.

Matérias-primas naturais e sintéticas

E não se engane ao pensar que dermocosméticos naturais ou orgânicos estão livres de derivados animais. Afinal, fluidos e órgãos animais são naturais e orgânicos, por definição. Falo mais disso no artigo sobre Rótulos: Entenda o que há por trás dos seus produtos.

Matérias-primas de origem vegetal e mineral substituem muitos ingredientes de origem animal. No entanto, nada impede que substâncias sintéticas também estejam presentes em dermocosméticos veganos. É importante conhecer a marca para verificar seu posicionamento quanto a isso, pois algumas substâncias sintéticas podem causar alergia, urticária ou outros efeitos tóxicos.

O número de marcas de beleza veganas tem crescido de maneira que já não conseguimos acompanhar e tudo indica que o futuro da indústria da beleza é vegano e não testado em animais. Sendo 100% vegetal, ou não, o que nos cabe como consumidores é pesquisar se a empresa cuida para que o uso ou o descarte de seus produtos não sejam prejudiciais a nossa saúde, aos outros animais e ao meio ambiente.

A pele é um órgão vital, altamente sensível aos estímulos externos e extremamente importante para nossa percepção do mundo. Vale a pena pesquisar um pouco mais para cuidar dela, não acha? Mesmo que cada tipo de pele possua uma especificidade de cuidado, dermocosméticos veganos seguros e certificados podem ser benéficos para todos, indistintamente.

Espero que a leitura tenha sido esclarecedora e que tenha motivado você.

Até a próxima!

Lorena Neves



Referências:

[1] https://www.nytimes.com/2019/02/26/style/why-you-should-care-about-vegan-beauty.html

[2]  https://www.cosmeticsdesign.com/Article/2018/09/19/The-rise-and-rise-of-vegan-claims-for-cosmetics

Fonte das imagens originais: Freepik