artigos |Postado em 02-02-2019

Um olhar sobre o Ativismo no Brasil

Um país com dimensões continentais é um país com problemas proporcionalmente continentais. O Brasil tem todos os desafios de um país de terceiro mundo e, por causa de seu tamanho imenso, acaba trazendo problemas tão diversificados quanto sua pluralidade genética e cultural. O ativista que se propõe a atuar em uma causa por aqui deve se acostumar a praticar muito de sua criatividade. A fama dos brasileiros em ter  imaginação rica para arte e trabalho também se aplica quando os assuntos são protestos e manifestos diversos pelas ruas e pela internet.

São Paulo é a maior cidade da América do Sul e acaba sendo o maior palco do ativismo nacional. No topo da cidade, a Avenida Paulista é o cenário mais simbólico para protestos. Quando o povo quer se expressar, ele vai para a Paulista. Há manifestações quase que diárias, de diversas tribos e com vários gritos. Já houve até acampamentos nas calçadas. Por consequência disso, São Paulo se tornou o berço de ONGs e ativistas. Frequentemente há encontros em parques e outros locais públicos para se discutir a melhor forma de atuar e de se fazer ouvir.

Nas últimas eleições, o ativismo brasileiro conquistou um feito que ilustra bem a originalidade que as lutas exigem: Uma candidatura coletiva foi eleita pela primeira vez no estado de São Paulo. A Bancada Ativista, formada por nove ativistas políticos de diversas áreas, recebeu 150 mil votos e foi a 10ª candidatura mais votada no Estado no pleito para a Assembleia Legislativa. “A Bancada é um movimento suprapartidário, dedicado a eleger ativistas para o Poder Legislativo em São Paulo. Composto por cidadãs e cidadãos com atuação em diversas causas sociais, econômicas, políticas e ambientais, visa a oxigenar a política institucional com a construção coletiva de campanhas e mandatos, com grande foco em transparência, pedagogia e participação”, destaca o texto de apresentação no site do grupo.

Outra conquista marcante foi o encerramento das operações de um laboratório que realizava testes em animais não humanos em 2013. Após uma invasão precedida de diversas manifestações em frente ao portão do instituto Royal, dezenas de ativistas libertaram 178 cães e 7 coelhos de experimentos realizados por conta da indústria farmacêutica. Dias depois, os ativistas voltaram ao local e também resgataram roedores. Houve grande repercussão na mídia e o impacto de conscientização social foi positivo.

Como em todas as causas, há divergência de posicionamentos e também de estratégias. Fato que gera diversas frentes de atuação em ações variadas. Em algumas situações episódicas, o ativismo se une e forma um bloco mais sólido, como foi o caso da discussão sobre a exportação de animais vivos para o exterior. No meio de 2018, um projeto de lei tramitou na Assembleia de São Paulo e pedia a proibição desse tipo de transporte de gado. Centenas de ativistas de ONGs diferentes estiveram presentes nas plenárias e protestaram em uma só voz.

O ativista da causa animal é também chamado de animalista e tem em seu engajamento uma peculiaridade: seu ativismo não é essencialmente uma luta pelo próprio bem, e sim pelo bem de uma outra espécie. O movimento tem angariado mais adeptos e se fortalecido aos poucos. Junto com o crescimento, vem também uma maturação do ativismo, de forma a profissionalizar a causa e organizar a batalha.

Em linhas gerais, o ativismo no Brasil ainda se encontra configurado como ações diretas radicais. Apesar de já ter gerado conquistas como as citadas anteriormente nesse texto, os movimentos ativistas ainda são intitulados como extremistas, ao ponto de o presidente da república eleito ter dito em campanha que iria “acabar com o ativismo no Brasil.”

Ao que tudo indica, os próximos passos do ativismo serão em busca de uma organização mais pragmática e uma atuação mais focada no diálogo, promovendo debates mais articulados e estratégicos.

A chegada da Te Protejo no Brasil traz experiência de anos de luta no Chile e traz também um foco que conta com poucos adeptos: a luta contra os testes para fins cosméticos. Nosso objetivo na capacitação do voluntariado é contar com um ativista eficaz, criativo, munido de informações atualizadas e frequente em nossas ações.

Foto por Clem Onojeghuo em Unsplash.